Cloughjourdan: Ecovila irlandesa

Judith Hitchman, dezembro 2011

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Cloughjordan é a primeira, e por enquanto, a única aldeia ecológica na Irlanda. Situada no nordeste do condado de Tipperary, a aldeia se encontra a pouco mais de uma hora de estrada de Dublin, mas a 3 horas de minha casa familiar no condado de Waterford. Com Fergal Anderson, que acaba de deixar seu trabalho em Bruxelas junto à Via Campesina para se instalar como agricultor nas terras de sua família em Galway, nós fomos calorosamente acolhidos por Davie Philips, Presidente do Conselho de Administração da Comunidade agrícola de Cloughjordan. Tivemos igualmente a oportunidade de conhecer alguns outros membros do Conselho, e de fazer uma visita à fazenda “de baixo”. O tempo inclemente e os limites de tempo impediram que fôssemos na fazenda “de cima”.

Origens

Nascida em 1999 – os primeiros membros estiveram envolvidos na Dublin Food Coope onde se encontraram – o projeto é um conjunto que foi concebido como modelo de vida sustentável. O local foi escolhido por motivos diversos: acesso fácil à capital, Dublin; a estação ferroviária; a diversidade religiosa da comunidade da aldeia que se prestava a uma tolerância mais ampla… A aldeia é composta de umas cinquenta famílias ; essencialmente de origem neo-rural mais do que rural. 80 dos 130 lotes da aldeia já foram vendidos. Há igualmente uma pousada com 32 leitos, aberta não somente para os visitantes, mas igualmente para hospedar os estagiários que vêm para um grande número de formações que acontecem no seio da aldeia. (Agro-ecologia, biodinâmica, agricultura, permacultura, resiliência comunitária, liderança, etc.) Está previsto uma parte do espaço para incluir uma zona de empresas sociais verdes. Já que os princípios da aldeia e da fazenda são baseados sobre a co-propriedade e o desenvolvimento comunitário, no melhor sentido do termo, o valor agregado de tal projeto será enorme. Uma padaria com fogo de lenha tradicional está prestes a abrir no local. O padeiro já é muito conhecido em Dublin.

Muitas coisas foram escritas sobre a Ecovila. Ela é construída sobre um site de mais ou menos 67 acres (27 hectares) de terras. O que o torna único de seu tipo e aquilo em que ele difere de muitos projetos um pouco similares, é que ele se encontra em meio a uma pequena aldeia já antiga. Em vez de criar atritos e de levar à saída da população local, este projeto revitalizou a comunidade existente. E apesar de uma desconfiança no início, existe agora uma verdadeira aceitação das “coisas estranhas” que acontecem, e que são um canteiro de obras que não para. Isto inclui o único conjunto de placas solares na Irlanda, um sistema de energias renováveis comunitárias que fornece a água quente e a calefação em todas as casas, um sistema de tomada de decisões comunitário, e casas de diferentes tipos, construídas pelos próprios moradores (cânhamo, cal e outros materiais ecológicos…).

Infelizmente as autoridades locais recusaram conceder o alvará para um sistema de purificação pelos caniços, apesar do fato que sistemas idênticos funcionam bem em outros lugares na Irlanda. Mas as autoridades irlandesas funcionam com total autonomia em relação umas com outras…

As atividades

O objetivo principal do presente artigo é de descrever o projeto bastante único em suas características de agricultura apoiada pela comunidade, que é integrado no conjunto do projeto da ecovila. A abordagem é a mesma que para o restante do projeto, e 60% dos membros da ASC vêm da ecovila. Estes últimos anos, as hortas comunitárias e municipais se tornaram um verdadeiro fenômeno. E as hortas são uma moda. Mas Cloughjordan é a primeira fazenda na Irlanda estruturada em ASC (Agricultura apoiada pela comunidade). No entanto, existe um número crescente de projetos em AMAP (versão francesa das ASC) na Irlanda.

A fazenda não tem certificação como orgânica. Simplesmente, não é necessário iniciar um processo longo e oneroso, já que os consumidores são os proprietários dos produtos, e que a fazenda, portanto, não vende nada; trata-se de um projeto comunitário construído sobre a confiança. No entanto, a fazenda utiliza os processos biológicos e dinâmicos. Existem duas parcelas, a de “cima” e a de “baixo”. As terras são alugadas, com os 12 acres de baixo e os 28 de cima. A fazenda organiza também projetos de vocação educativa: cursos de culinária, momentos de colheita, atividades escolares para crianças e jovens de qualquer idade.

A natureza única da fazenda é que ela é contígua à aldeia. A parte baixa se encontra logo atrás das casas. Isto quer dizer que as 57 famílias são, para a maioria delas, mais implicadas e mais conscientes do que a tendência geral da população. As contribuições semanais são muito modestas, baseadas sobre o tamanho da família e a renda. Mas, na hora em que estive lá, os legumes recentemente colhidos estavam simplesmente colocados em um velho galpão aberto três vezes por semana, onde os membros podem se servir como quiserem. Este sistema de livre serviço não provocou nenhum problema até os dias de hoje. Em outras estações, os legumes são deixados ali duas vezes por semana. Alguns membros da ASC moram em aldeias ou cidades vizinhas, como Negagh, a 10 quilômetros de lá. O que implica a necessidade de organizar cestos uma ou duas vezes por semana.

A fazenda fornece também leite cru das vacas da raça do Kerry a seus membros. Isto é possível, a despeito das normas das regulamentações da EU que proíbem agora a venda do leite cru, pois o leite não é vendido: os membros são considerados como proprietários, por causa de seu pertencimento ao projeto coletivo. Isto inclui também ovos e cereais, bem como os legumes. Um bom número de variedades antigas de legumes é cultivado na fazenda. E, mediante uma contribuição adicional, os membros podem partilhar também porcos e cordeiros. Contei pelo menos umas quinze variedades de legumes nos campos, o que representa uma bela diversidade para as possibilidades climáticas. “Wwofers” (rede mundial de voluntários na agricultura orgânica) do mundo inteiro vêm também trabalhar na fazenda.

No passado, a fazenda foi gerida por diferentes pessoas, mas a situação está atualmente bem estabilizada. Um aspecto bem divertido é a maneira como são estocados os legumes: um velho container de caminhão foi comprado pela modesta quantia de 200 euros. O interior foi equipado para deixar os legumes fora do alcance dos animais selvagens que ficariam tentados em comê-los, e com compartimentos para as diferentes variedades de legumes. Tudo isto bem arejado.

Os agricultores locais desconfiavam inicialmente das inovações da fazenda. Mas, os bons resultados, a qualidade inegável dos legumes, fizeram que eles aceitassem pouco a pouco a abordagem ecológica.

O método decisional utilizado para a fazenda e a vila em seu conjunto é uma adaptação do MSV (Modelo dos Sistemas Viáveis). Esta adaptação permite a todos os que se implicam de operar com um máximo de autonomia. O resultado é uma democracia real com uma estrutura organizacional coerente. O nível de implicação nos diferentes projetos tem por resultado uma comunidade realmente sustentável que se realiza, e um desenvolvimento local sustentável.

A fazenda pensa em organizar uma conferência ASC nacional em fevereiro próximo, a fim de criar uma rede irlandesa, e de realizar uma cartografia do que existe. Cloughjordan agora é membro de Urgenci, a rede internacional da ASC, e a este título, os convidou para participar. Que prazer que esta visita!

www.cloughjordancommunityfarm.ie/

thevillage.ie/

www.cloughjordan.ie/mainpage/index.htm

Http://www.wwoof.org

Fontes :

Boletim Internacional de desenvolvimento local sustentavel #84